terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Confusão ortográfica...

Reforma ortográfica: marolinha ou tsunami?

Em 2009, a maioria dos veículos brasileiros de comunicação utilizará seu papel educativo junto à sociedade para divulgar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O prazo para adaptação às novas regras vai até o dia 31 de dezembro de 2012, mas a imprensa pretende ser pioneira na adoção das novas regras. Apesar das controvérsias entre especialistas, muitos acreditam que a reforma ortográfica possa ser comparada a uma ‘marolinha’ – da mesma forma como foi classificada a crise econômica mundial pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em outubro, caso os efeitos da turbulência atingissem o Brasil.

Entretanto, para muitos, essa mesma ‘marolinha’ pode tornar-se uma ‘tsunami’ quando trata de confundir a cabeça das pessoas. Para o professor e consultor de português do Jornalismo da Rede Globo, Sérgio Nogueira Duarte, a reforma em si é tímida e pequena, mas afetará muita coisa. “Ortografia se sabe por memória visual, pois a maioria das pessoas não conhece as regras da gramática. Muitos irão se confundir não com o que vai mudar, mas, sim, por aquilo que fica”, explica. Em março, Sérgio estará em Porto Alegre para ministrar um curso sobre a nova ortografia pela Coletiva EAC. Já o diretor da Press Revisão, Luiz Lopes, disse que muitos de seus clientes querem se adequar logo às novas normas, mas outros preferem aproveitar o período de transição, que vai até 2012.

Um dos críticos assumidos da reforma é o doutor em Letras e colunista da revista Mundo Estranho, da Abril, e do jornal Zero Hora, Cláudio Moreno. Em um artigo, ele definiu o Acordo como um “amontoado de regras desordenadas, mal concebidas e redigidas de maneira pedestre”. Segundo Cláudio, os participantes da comissão responsável pelas alterações dedicaram-se à tarefa redundante de dizer tudo o que o que o tratado de 1943 já tinha conseguido dizer de forma mais clara e organizada. “A conseqüência é a falsa aparência de complexidade que o texto assume para o leitor não-especializado, que não percebe, por trás desse palavreado cheio de farofa, que a montanha está parindo um esquálido ratinho.”No universo acadêmico, a maioria dos alunos discorda e condena essa reformulação. O estudante de Jornalismo Carlos Ismael Moreira considera a reforma “um despropósito”. Em sua opinião, uma reforma ortográfica deveria facilitar a linguagem e não complicá-la. “Acentos diferenciais servem, como o próprio nome diz, para indicar diferença, não são enfeites. Mas acho que o principal motivo para se repudiar a reforma ortográfica reside no fato de que o Brasil não consolidou uma língua pátria até hoje. Em menos de um século é a terceira reforma ortográfica.”, disse.

Os estudantes de Jornalismo Bianca Bassani e Alexandre Paz também acreditam que a reforma seja desnecessária. “É algo que vai confundir muito a cabeça das pessoas, pois nem todo mundo vai adotar as normas ao mesmo tempo. Acho que já existem tantas regras complicadas no português e essas vêm para complicar mais ainda. Enquanto eu não for obrigada a usá-las, vou escrever da forma como sempre escrevi”, afirmou Bianca. “A mudança das regras de gramática é algo totalmente absurdo dada à situação da sociedade contemporânea. Existem muitas outras prioridades para serem votadas, como por exemplo, as normas da Constituição que deixam brechas suficientes para que bandidos possam ser absolvidos ou terem penas amenizadas em julgamentos”, declarou Alexandre.

De acordo com especialistas, 0,45% das palavras brasileiras sofrerão alterações, ao passo que em Portugal haverá mudanças em 1,6% dos vocábulos. Entre as novidades previstas no Acordo, estão algumas modificações nas normas de acentuação e hifenização e o trema foi extinto. O objetivo da reforma é unificar a ortografia nos oito países que fazem parte da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Brasil, Portugal, Timor Leste e cinco nações africanas (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Já foram feitos três acordos oficiais, aprovados pelos países: o de 1943, o de 1971 e o que vai vigorar a partir de 2009. Até 31 de dezembro de 2012, haverá um período de transição, no qual ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita. Nos livros escolares, a incorporação das mudanças será obrigatória a partir de 2010. Em 2009, podem circular livros tanto na atual quanto na nova ortografia.

Fonte: Coletiva.net

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